A renda fixa é uma das categorias de investimentos mais utilizadas pelos brasileiros. A razão para isso é simples: por muito tempo, o Brasil praticou altas taxas de juros, tornando essa classe de ativos muito atrativa para valorização patrimonial.

Só que agora a situação mudou. O Brasil não traz o mesmo cenário de taxas, algo que obriga quem deseja crescer seu patrimônio a buscar maior risco. Ao mesmo tempo, isso não significa que a renda fixa não tenha seu valor para objetivos específicos.

Isso vale em especial para o investidor iniciante, que ainda está aprendendo como rentabilizar o seu dinheiro. Nesta categoria, afinal, estão alguns produtos bem seguros como a Caderneta de Poupança e o Tesouro Selic. Contudo, não confunda renda fixa com segurança. Ao longo do artigo, você vai entender os motivos para esse alerta.

 

O que é renda fixa?

Ao contrário do que pensam muitas pessoas, a renda fixa não é sinônimo de segurança, mas sim para previsibilidade de caixa. Isto é, no momento em que você investe, as condições de lucro já estão bem definidas.

Neste sentido, ela se difere da renda variável que não oferece essa previsibilidade sobre o seu comportamento. Uma ação, por exemplo, pode gerar lucros e prejuízos a depender dos resultados dos próximos meses. Ou seja, é um investimento mais incerto.

Portanto, a primeira coisa que você deve saber é que a renda fixa permite a previsibilidade de caixa. Embora alguns ativos sejam, de fato, seguros, nem todos funcionam dessa maneira. Em outras palavras, é preciso conhecer o produto antes de investir caso o objetivo seja a segurança do seu dinheiro.

Como funciona a renda fixa?

negociação trocaA renda fixa funciona, basicamente, por meio da emissão de títulos de dívida por parte de empresas, de bancos ou até mesmo do governo. Como assim? Simples: essas instituições podem precisar captar recursos para suas atividades. São exemplos disso:

  • Novos projetos que exigem investimentos, como abertura de filiais
  • Atualização de infraestrutura com a criação de escolas, hospitais e estradas
  • Pagamento de colaboradores ou fornecedores
  • Reforço de caixa para eventualidades

Assim, para esses objetivos, elas emitem esses títulos de dívida. Na prática, eles funcionam como uma espécie de “pedido de empréstimo”. Assim, os investidores podem “emprestar” o seu dinheiro para as empresas ou para o governo em troca de, futuramente, receber esse dinheiro emprestado de volta com acréscimo de juros acordados.

Em resumo, esse é o fluxo da renda fixa:

  1. Investidor “empresta” o seu dinheiro por meio da compra de um título de dívida;
  2. No título, o emissor compartilha dados como remuneração dos juros e a data de vencimento (dia do pagamento);
  3. O emissor do título usa o dinheiro para suas atividades necessárias, enquanto o investidor aguarda;
  4. Na data de vencimento acordada, o emissor do título deve devolver o dinheiro do investidor com o acréscimo dos juros.

Quais são os modelos de remuneração da renda fixa?

Para o pagamento dos seus investidores, os emissores dos títulos podem optar por uma das três modalidades abaixo:

  • Títulos prefixados: possuem a remuneração definida com antecedência. Permite uma programação dos pagamentos de forma objetiva, pois não há variação. Exemplo: 5,0% ao ano.
  • Títulos pós-fixados: esse segundo grupo possui sempre uma remuneração atrelada a um indexador (geralmente um índice). Assim, de acordo com a movimentação deste, a remuneração dos juros pode variar também. Exemplo: 105% do CDI.
  • Títulos híbridos: por fim, os títulos híbridos são aqueles que mesclam os dois formatos anteriores. Isto é, uma parcela prefixada e outra pós-fixada. Exemplo: IPCA + 2,0%.

O que são indexadores?

Os títulos prefixados são bem simples de compreender, certo? No entanto, os títulos pós-fixados costumam gerar algumas dúvidas. Afinal, se a renda é fixa por que ela pode variar? Neste caso, os rendimentos acompanham os indicadores selecionados, mas isso não significa que o resultado possa variar tanto assim. Há sempre uma expectativa para cada um deles.

Em suma, esses são os indexadores mais comuns nos investimentos de renda fixa:

  • Certificado de Depósito Interbancário (CDI): por determinação do Banco Central, nenhum banco pode encerrar o dia com caixa negativo. Assim, eles fazem transações entre si para ajustar o balanço de saques e resgates dos seus clientes. Essa operação, que contém uma cobrança de juros, é chamada de Certificado de Depósito Bancário. A média do custo desses empréstimos entre bancos determina a Taxa CDI, um dos principais indexadores da renda fixa.
  • Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC): o sistema SELIC funciona de maneira similar ao que vimos no CDI, mas monitorando os títulos públicos (aqueles emitidos pelo governo). A Taxa Selic se origina deste sistema e é definida periodicamente pelo Banco Central, em reunião estratégia (Copom).
  • Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA): o IPCA é um dos principais indicadores de inflação, que é o aumento dos preços do mercado. Além de indicar essa variação de precificação dos produtos e serviços brasileiros, o índice é utilizado como referência para alguns investimentos de renda fixa.

Lembrando que, apesar de serem os principais indexadores, esses não são os únicos. Antes de investir em um título pós-fixado é essencial entender qual é o índice que ele utiliza para o cálculo da remuneração.

Afinal, renda fixa é segura?

prioridade dinheiro dívidaNão necessariamente! Há muita gente que, de maneira equivocada, associa a renda fixa com segurança. O que é seguro, na prática, é o ativo (e não a categoria).

Ou seja, a sua Caderneta de Poupança, o CDB de um grande banco (como Itaú ou Bradesco) ou o Tesouro Selic são investimentos muito seguros. No entanto, o que traz essa segurança são as suas próprias características. A categoria da renda fixa também oferece seus riscos, em especial nos títulos emitidos pelas empresas privadas de médio ou pequeno porte.

Os principais riscos da renda fixa

Veja, logo abaixo, alguns exemplos de riscos que encontramos nesta categoria de investimentos:

  • Risco de crédito: na data de vencimento, o emissor do título deve pagar a remuneração acordada com o investidor. No entanto, nem sempre isso acontece. Pode acontecer o popular “calote” e o dinheiro ser perdido. Quanto maior o porte da empresa, menor esse risco, mas ele sempre existe, hein!
  • Risco de liquidez: a liquidez consiste na facilidade de resgatar o seu investimento em dinheiro. Em alguns títulos, o resgate antecipado não é possível. E, ainda que seja, pode ser necessário abrir mão de parte dos ganhos nessa situação.
  • Risco de mercado: as condições do mercado também influenciam os resultados. Se você investe em um título indexado à Taxa Selic e o Banco Central reduz o seu valor, por exemplo, o investimento acaba perdendo rentabilidade.

Perceba, portanto, que a renda fixa também tem seus riscos. Ou seja, é necessário ponderar todo cenário econômico antes de tomar uma decisão de investimentos. Aqui você terá previsibilidade de caixa, mas a tranquilidade depende de uma série de condições. E, se há segurança, também haverá menor rentabilidade.

Quais são os principais investimentos de renda fixa?

Já que você já domina o funcionamento da renda fixa, agora podemos falar de algumas oportunidades para investimentos. Vale lembrar que a categoria permite tanto o uso de ativos seguros (para deixar o dinheiro sem correr riscos), como também alguns títulos mais arriscados (oferecendo um potencial retorno mais atrativo).

A seguir, apresentamos brevemente os mais conhecidos títulos de renda fixa que você pode utilizar para investir. Lembrando que a escolha deve levar em conta uma série de fatores como perfil de investidor ou objetivos estratégicos. Vamos lá!

Títulos públicos: como investir?

negociar dívidaO primeiro grupo de ativos é de títulos públicos que, como agora você já sabe, representam aqueles papéis emitidos pelo governo.

Por regra, são ativos muito seguros na medida em que o governo tem diversos recursos para pagar suas dívidas — incluindo ações radicais como emissão de mais moeda, embora isso traga uma série de impactos negativos para a economia.

Eles podem ser negociados por uma plataforma online, criada em 2002, chamada de Tesouro Direto. Por lá, qualquer pessoa pode comprar ou vender seus títulos públicos.

 

Quais são os tipos de títulos públicos?

No Brasil, existem três modalidades de títulos de renda fixa emitidos pelo governo. São eles:

  • Letra Financeira do Tesouro (LFT): popularmente chamado de Tesouro Selic, é o título pós-fixado que acompanha a Taxa Selic. Assim, basicamente você estaria investindo na taxa de juros brasileira. Como há esse acompanhamento de taxa e o emissor é confiável, temos um ativo muito seguro e recomendado para sua reserva de emergência, pois oferece liquidez diária (isto é, você pode vendê-lo a qualquer momento e receber seu dinheiro no dia seguinte).
  • Letra do Tesouro Nacional (LTN): é a versão prefixada dos títulos públicos. Assim como outros ativos no formato, você define a sua remuneração no ato do investimento. É ideal quando há expectativa de queda nas taxas de juros, preservando a rentabilidade em relação ao Tesouro Selic. Quanto mais longo o título, maior o risco do investimento.
  • Notas do Tesouro Nacional (NTN): por fim, temos a NTN que popularmente é chamada de Tesouro IPCA, justamente pela rentabilidade pós-fixada atrelada à inflação. Aqui, o título oferece uma proteção contra o aumento dos preços na medida em que vai acompanhar o principal indicador da categoria.

Lembrando que, apesar da segurança oferecida pelo governo brasileiro em relação aos seus títulos, o risco de crédito nunca pode ser descartado. Neste contexto, podemos lembrar o que acontece com a Argentina, que se aproxima do décimo calote em seus investidores. É uma situação, contudo, atípica.

Títulos bancários: como investir?

investimento bancosO segundo grupo da renda fixa abriga os títulos bancários que, como o próprio nome sugere, são os ativos emitidos pelos bancos e demais instituições financeiras. Para esse tipo de organização, em que o dinheiro é o próprio serviço oferecido ao mercado, a captação de recursos é essencial.

O risco desses ativos está diretamente associado com o emissor. Em outras palavras, títulos do Itaú, do Santander, do Bradesco ou do Banco do Brasil são extremamente confiáveis. No entanto, conforme o porte da instituição bancária reduz, esses riscos aumentam. Assim, a depender do cenário, você deve exigir uma maior rentabilidade em relação aos bancos tradicionais.

Um ponto importante sobre esse grupo de títulos é que eles são protegidos pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC), uma entidade privada mantida pelos próprios bancos para remuneração do investidor em caso de calote da instituição financeira. Ou seja, é uma forma de apresentar maior segurança aos títulos.

 

Os principais títulos bancários

Em suma, esses são os principais títulos bancários nos quais você pode investir:

  • Certificado de Depósito Bancário (CDB): é o formato de empréstimo invertido (é o investidor quem empresta dinheiro ao banco — e não o oposto). Possui características como liquidez diária e prazo de vencimento (embora hoje já seja possível vender o título antes do prazo estipulado). Devem pagar mais do que o Tesouro Selic, uma vez que o risco bancário é, geralmente, maior do que o do governo.
  • Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): esse é um ativo similar ao CDB, mas com obrigatoriedade de que o dinheiro seja empregado no agronegócio. Há isenção do Imposto de Renda como forma de incentivar os investimentos na categoria.
  • Letra de Crédito Imobiliária (LCI): tem exatamente o mesmo funcionamento da LCA, mas aplicável ao mercado imobiliário.
  • Caderneta de Poupança: longe de ser um bom investimento atualmente, ainda é muito usada pelos brasileiros pela facilidade de resgate. Com as novas regras aprovadas em 2012, tornou-se uma péssima opção, perdendo em rentabilidade para quase todos os ativos.

Como escolher um título bancário?

Uma dica importante ao analisar os títulos bancários é observar as rentabilidades líquidas (isto é, descontando o Imposto de Renda). Isso porque, como vimos, LCA e LCI não oferecem essa tributação, enquanto que o CDB sim.

Suponha, por exemplo, que você tenha dois títulos para definir um investimento. As rentabilidades oferecidas seriam as seguintes:

  • CDB: 115% do CDI
  • LCI: 108% do CDI

A princípio, pode parecer que o CDB é mais atrativo, afinal, oferece maior retorno. No entanto, é preciso descontar o Imposto de Renda (vamos supor que seja de 20%). Suponha ainda um CDI de 5% no momento deste cálculo. Vamos conferir os resultados?

  • CDB: 115% x 6,0% = 6,90% x (1 – 20%) = 5,52%
  • LCI: 108% x 6,0% = 6,48%

Veja, portanto, que há um resultado melhor na rentabilidade do LCI, mesmo que aparentemente ela seja menor. O investidor que não se atenta para esse detalhe pode acabar tomando uma má decisão pensando no potencial lucro da operação.

Títulos privados: como investir?

compras empresasPor fim, temos ainda os títulos privados, aqueles emitidos por companhias privadas — as empresas que não sejam governamentais ou bancárias. De um modo geral, esse é o grupo de maior risco dentro da renda fixa já que não possui a proteção do FGC, tampouco a estrutura governamental.

Por outro lado, a rentabilidade maior costuma compensar. É bem comum que os títulos privados ofereçam taxas de juros acima dos títulos bancários e dos títulos públicos, ao menos em condições de risco similares.

 

E quais seriam os principais tipos de títulos privados? Eles estão listados abaixo:

  • Debêntures: são os títulos mais comuns, mas pode apresentar variações no seu formato. Existem as debêntures simples (regras definidas pelo título), debêntures conversíveis (podem ser convertidas em ações da empresa emissora) e debêntures incentivadas (exclusivas para negócios de infraestrutura, oferecendo isenção do Imposto de Renda), por exemplo.
  • Certificado de Recebível do Agronegócio (CRA): é um formato similar ao LCA, com a diferença de que a oferta é feita diretamente pelo mercado privado por meio de uma securitizadora (e não por um banco). Essa empresa converte fluxos de pagamento em dívidas ao mercado para o setor do agronegócio.
  • Certificado de Recebível Imobiliário (CRI): o modelo é similar ao CRA, mas aplicado ao mercado imobiliário. Permite que as construtoras antecipem seus recebíveis para novos projetos, sem esperar os pagamentos parcelados da venda dos seus imóveis.

Como funciona a tributação na renda fixa?

Por fim, não podemos nos esquecer de falar sobre os impostos cobrados sobre os lucros obtidos com a renda fixa. Basicamente, são dois com os quais devemos nos preocupar:

  • Imposto sobre Operações Financeiras (IOF): é um imposto cobrado nos primeiros 30 dias, iniciando em 96% sobre o lucro e reduzindo progressivamente. A partir do 31º dia do investimento você está livre dessa cobrança, mas atente-se a esse prazo antes de resgatar o dinheiro logo no começo dos rendimentos.
  • Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF): é o nosso famoso Imposto de Renda, que se utiliza da tabela regressiva na cobrança sobre os lucros da pessoa física. Inicia em 22,5% e pode reduzir a tributação até 15% após 720 dias.

Prazo Imposto de Renda
Até 180 dias 22,5%
Entre 181 e 360 dias 20,0%
Entre 361 e 720 dias 17,5%
Acima de 721 dias 15,0%

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