O planejamento de carreira (ou plano de carreira, como se popularizou o termo nas empresas) é extremamente comum em empregos tradicionais. As próprias organizações que nos contratam acabam se responsabilizando por esse processo, pois desejam ter profissionais mais competitivos.
No final das contas, as duas partes ganham. Você, ao adquirir novas habilidades e conhecimentos. A empresa, ao preparar colaboradores mais completos e, principalmente, treinados nas habilidades que ela considera essenciais para o bom desenvolvimento do trabalho dentro do dia-a-dia.
No entanto, essa transferência de responsabilidade do planejamento de carreira para a empresa não é possível na vida de um freelancer. Ainda que trabalhemos com clientes fixos, os quais ofereçam uma proximidade acima da média, a probabilidade de qualquer ação nessa direção é realmente mínima. E neste caso: o que fazer?
Como criar um planejamento de carreira como freelancer?
A resposta para a pergunta que encerrou a introdução é bem objetiva e sem segredos: é você, como sempre, quem estará no centro da ação. Cabe, portanto, a nós mesmos buscar caminhos para a evolução profissional. Nessa altura do campeonato, imagino que não seja exatamente uma novidade. Um profissional independente precisa lidar com tudo. Não gosto muito da expressão “ser seu próprio chefe”, mas ela faz bastante sentido aqui.
Vamos, a partir de agora, ver como é possível criar um planejamento de carreira sendo freelancer. Vale lembrar, é fundamental não estagnar no mercado. Os seus concorrentes certamente estarão buscando aprimoramento profissional e você não pode ficar para trás.
Quais são as suas principais habilidades?
Uma boa forma de começar a estruturar um plano de carreira é pensar nas suas habilidades pessoais. Obviamente que, neste ponto, o foco está na área profissional, mas nada impede que a sua avaliação englobe também questões pessoais. O que é essencial para o desenvolvimento do trabalho? Você domina ou deve aperfeiçoar essa habilidade?
Pense também no curto prazo. A sua atividade atual é também aquela que deseja exercer no futuro? Ou a ideia é migrar aos poucos de área? Neste caso, valeria um curso (online ou presencial) para aumentar os conhecimentos. Apesar do mundo dos freelas não exigir diploma na maioria das vezes, um certificado nos enche de orgulho, não é mesmo? E pode comprovar tecnicamente alguma aptidão para um cliente que ainda não te conhece.
A internet é uma grande amiga nesse sentido. Existe uma infinidade de cursos online com preços acessíveis que, se não apresentam uma qualidade extremamente alta, podem ajudar a criar uma base. No futuro, nada impede o aperfeiçoamento com o consumo de conteúdos mais técnicos e completos.
Como está o seu mercado de trabalho?
Na hora de elaborar o seu planejamento de carreira como freelancer, o mercado não pode ser ignorado. Um erro comum é pensar muito no “eu”, esquecendo o contexto geral da profissão. Para quem já atua de maneira independente por mais tempo, os próprios projetos trazem um excelente termômetro da situação geral.
Ainda que as coisas estejam fluindo positivamente, não deixe de ficar de olho nas oportunidades. Por vezes, uma área pode estar carente de bons profissionais e, caso possua as habilidades certas, pode ser uma forma interessante de aumentar os seus rendimentos.
De alguma forma, essa dica pode funcionar como uma aplicação do conceito do Oceano Azul, que defende as vantagens de buscar pelos mercados inexplorados (em razão da baixa concorrência). Isso, de quebra, facilita o seu posicionamento e ainda permite um aumento na quantidade de projetos disponíveis para atuação.
Você tem o hábito de realizar uma avaliação de si mesmo?
Já falamos algumas vezes sobre como o freelancer é, necessariamente, a sua própria marca. E, novamente, isso traz uma implicação necessária: a auto-avaliação. Ela se faz presente nos tópicos anteriores de alguma maneira, mas é importante que esse processo seja feito de forma mais aprofundada de tempos em tempos.
Uma boa ideia nesse sentido é criar uma análise SWOT do seu trabalho. A SWOT é uma metodologia de avaliação de aspectos internos e externos a um negócio — facilmente replicável para um profissional independente. O seu nome é originado justamento dos pontos de análise, sendo:
- Strenghts (forças/pontos fortes)
- Weaknesses (fraquezas/pontos fracos)
- Opportunities (oportunidades)
- Threats (ameaças)
Os dois primeiros referem-se ao olhar para si mesmo, ou seja, aspectos internos. Já as outras duas são para finalidade externa, tais como concorrentes, clientes e projetos. Repare que, ao realizar esse exercício, fica muito mais fácil encontrar um caminho para organizar o seu planejamento de carreira.
Você pode, inclusive, direcionar os seus esforços para trabalhar os pontos fracos do seu perfil profissional e se tornar um freelancer mais completo e preparado do ponto de vista técnico. Neste mesmo sentido, monitorar os riscos ajudam e mitigar os receios de ficar sem trabalho ou sem renda, por exemplo.
Onde você quer chegar?
Se você já me acompanha há algum tempo sabe o quanto defendo a criação de metas e objetivos para qualquer situação. E não é por acaso: essa ação garante uma pressão positiva para que realmente encaixemos as atividades que pretendemos para o nosso plano de carreira.
Lembre-se sempre de que o seu futuro está na suas mãos. E, desta forma, as escolhas e decisões cabem a você. Não deixe, portanto, de criar prazos para cada ação que você definir no seu plano de desenvolvimento pessoal e/ou profissional. Assim, você evita também a aparição de um dos nossos maiores inimigos: a procrastinação.
Já cogitou olhar para o mercado internacional?
Outra ação bem natural é restringir a nossa análise apenas para o mercado nacional. Esse, no entanto, pode ser um erro na medida em que limita o seu crescimento profissional. O que quero dizer com isso? Que, com o apoio da internet, é possível adicionar projetos estrangeiros na sua carteira de clientes.
A principal vantagem dessa ação é um tanto quanto óbvia: expandir oportunidades. Contudo, existe mais um benefício. Muitos desses projetos podem ser localizados em países de moedas mais fortes (como o dólar ou o euro, por exemplo), trazendo rendimentos ainda mais interessantes.
Se você ainda não pensou nisso, vale avaliar. Não deixe, porém, de caprichar em cursos de idiomas. Uma boa comunicação é essencial para garantir o bom andamento do projeto, ainda que a sua atividade não exija tanto uso da língua estrangeira na prática.
O que analisar para criar um planejamento de carreira para freelancer?
Tudo que falamos até aqui é muito interessante e verdadeiro. No entanto, existem formas ainda mais eficazes de garantir a montagem de um plano de carreira perfeito. Estou falando do uso de ferramentas técnicas, em especial os indicadores do nosso trabalho.
Se você já trabalhou para alguma empresa, certamente tinha metas e objetivos para entregar, certo? Esses indicadores são ferramentas essenciais para que a gente monitore o próprio desempenho e saia do achismo. Há uma frase de Peter Drucker, aliás, que representa muito bem o que quero compartilhar aqui:
“Se você não pode medir, então você não pode gerenciar.”
Como vamos tomar boas decisões sobre a nossa carreira se não fazemos ideia como está a nossa produtividade? Ou então se o desempenho tem sido positivo diante dos clientes? Pois bem, criar indicadores de performance podem ajudar a entender o seu cenário atual e direcionar o seu plano de carreira.
Exemplos de indicadores para o trabalho freelancer
Eu imagino que esse papo de indicadores já faça você pensar em um banco de dados complexo ou aquela pressão por atualizar os números. No entanto, não é bem assim: você pode criar mecanismos simples para acompanhar o seu trabalho. É fundamental, afinal, entender o nosso desempenho para criar um bom planejamento de carreira.
Veja, a seguir, alguns exemplos de indicadores simples (e eficazes) que recomendo para um profissional freelancer:
- Quantidade de projetos: faça o acompanhamento das suas entregas mensais tanto em volume, quanto em complexidade. Uma boa dica também é monitorar de qual tipo de serviço está a maior parte dos seus ganhos. Pode ser que aquela atividade mereça um foco da sua carreira pela lucratividade oferecida.
- Valor por hora: não é preciso cronometrar tudo que você faz no seu dia, mas é fácil ter uma noção de horas gastas em uma atividade, concorda? Elas precisam ser devidamente remuneradas, funcionando como um indicador financeiro e de produtividade ao mesmo tempo.
- Novos contatos: a menos que nossa rotina esteja com agenda cheia, sempre há tempo para buscar novos clientes e projetos. Tente registrar os contatos que você faz em busca de trabalho, olhando também para a conversão. Se o indicador estiver ruim, pode se converter em uma prioridade no seu planejamento de carreira.
- Salário médio mensal: por fim, um ótimo exemplo de indicador financeiro é o seu salário médio com os trabalhos realizados. Por mais que a sua renda oscile, sempre teremos uma média sobre a qual você pode se basear para planejar gastos e investimentos no seu crescimento (como cursos ou treinamentos).
Veja, portanto, que temos aqui quatro métricas poderosas e que podem ser facilmente obtidas com o uso de uma planilha simples no Google Sheets ou no Excel. Como inspiração, vou deixar aqui um gráfico que uso pessoalmente com a quantidade de freelas por mês. Observe como um simples gráfico me permite analisar minha própria demanda sem grande esforço.
O planejamento de carreira: um exemplo pessoal
Por mais que eu goste e recomende a criação de um planejamento de carreira, não há motivo para que você se sinta pressionado em dar respostas sobre o seu futuro profissional. Em muitas vezes, os processos da vida ocorrem de maneira natural. E esse pode ser mais um deles.
Posso compartilhar contigo a minha própria história pessoal. Enquanto cursava meu curso de Administração na faculdade, jamais pensei ou cogitei em trabalhar como freelancer. Na minha cabeça, o mercado tradicional era o que pautava minhas oportunidades e, consequentemente, o meu planejamento de carreira.
Pois talvez você fique surpreso de saber que iniciei minha carreira independente menos de dois anos depois de concluir o curso de graduação. Isso mesmo: a minha trajetória profissional se modificou completamente, sem qualquer expectativa que apontasse para essa direção.
Tudo isso para dizer que o planejamento é, como o próprio nome sugere, um planejamento. E ele pode se confirmar ou não na prática. No entanto, sem dúvidas, a organização e o preparo vão auxiliar muito para que você possa alcançar os seus objetivos.
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